
“Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento”
Serra do luar – Walter Franco
O principal instrumento de atuação do líder é ele mesmo, e não existe qualquer ferramenta que possa substituir este instrumento afinado em sua relação com o liderado. Então, surge a pergunta: o que é primordial e necessário para que se consiga uma correta afinação?
A primeira resposta que aparece é o autoconhecimento, o que eu considero também como a principal resposta. Não é possível fazer a afinação de um instrumento que não se conhece, sobretudo porque o líder não é um instrumento acabado, mas que pode e deve estar continuamente em um processo de desenvolvimento.
De forma direta, é o autoconhecimento que possibilita o desenvolvimento das competências do líder nos aspectos humanos e, de forma particular, em seus aspectos profissionais. Para que o líder conquiste o direito de colocar-se em frente a um liderado na posição de quem apoiará o seu processo de desenvolvimento, ele próprio tem de estar em desenvolvimento. Isto permitirá que o líder consiga colocar-se à disposição do liderado e ao mesmo tempo conter os seus conteúdos internos sem inconscientemente incorrer em mecanismos de poder e controle.
Em um processo autêntico de autoconhecimento, o ser humano depara-se com as suas virtudes e também com as suas sombras, o que pode trazer-lhe resistências na forma de dúvida, de descrença e de medo. Este confronto com nossas alegrias e com nossas dores é o que possibilita que conquistemos a sabedoria. Nesta jornada – que Carlos Drummond de Andrade chama de “a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo”1 – será sempre importante que tenhamos transparência, confiança e protagonismo, buscando manter “a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”2.
Surgem então mais duas perguntas: quais são as diferentes dimensões em que o líder pode ampliar e aprofundar o conhecimento sobre si mesmo e de que forma isto pode ser conseguido.
As dimensões são incontáveis, e posso citar como pontos de partida a sua história de vida; com seus desafios, crises e conquistas; a sua identidade – com seus valores, propósitos e visão de futuro; a sua personalidade – com seus temperamentos, atitudes anímicas e tipo psicológico; e a sua relação com o ambiente e como este afeta a autoconfiança e a autoestima.
O mergulho corajoso em si mesmo é a forma essencial para o líder conseguir o autoconhecimento e “descobrir-se em suas próprias e inexploradas entranhas”3, mas nós não devemos deixar de dar importância às percepções externas sobre nós que podemos obter com as pessoas com quem convivemos e incorporar de forma carinhosa diferentes perspectivas em nossa análise. Além disso, alguns instrumentos e ferramentas – como o MBTI – podem ajudar o líder a perceber-se de forma estruturada e ampliada com a oportunidade para novas ações e comportamentos.
A busca contínua por autoconhecimento como base para o autodesenvolvimento genuíno e consistente deve ser um mandamento para o líder virtuoso que tem clareza de como o seu jeito de ser impacta a sua prática profissional.
Citações:
1 e 3 – O homem; as viagens – Carlos Drummond de Andrade
2 – Serra do luar – Walter Franco